Chocolate
Um belo dia fui em direção ao banheiro para cumprir meu papel diário de êxodo rural. Tudo muito bem, se não fosse por uma coisa estranha, um forte cheiro de chocolate.
Imaginei que fosse algo na cozinha, não, era ali bem perto de mim, mais precisamente embaixo. Foi quando eu cheguei à apavorante porém agradável surpresa. Eu estava cagando chocolate.
Não era possível, mas era aquilo mesmo. Chocolate. Chocolate ao leite. Imaginei que fosse algo temporário, afinal era pós-páscoa, e relevei o assunto, ignorei o chocolate imaginando que fosse algo da minha cabeça.
Mas o negócio não ia embora, e agora meus puns tinham cheiro de chocolate.
Foi quando um dia aconteceu, reunião de trabalho, aquele pum safado anunciou sua chegada. Não podia levantar, tinha acabado de chegar atrasado. Quer saber, deixei rolar o punzinho sagaz.
Disfarcei o som com uma tosse. Foi quando minha chefe parou de falar, olhou pra mim com uma cara estranha, eu já desesperado imaginando o que poderia dizer, ela vira e fala:
- Que cheiro gostoso, porra.
Todos na mesa concordaram. Sim, era cheiro de chocolate. De onde vem ? Quem comeu ? Me dá um pedaço ?
Desanimados após descobrirem que o chocolate era omisso, e ao mesmo tempo meio putos comigo porque eles tinham certeza que era eu quem estava dechavando o chocolate, a reunião seguiu em frente, até porque o cheiro sumiu.
Após a reunião, o Jorge, colega de trabalho, me puxa num canto e fala baixinho:
- Eu sei o que está acontecendo.
- Qual foi ?
- Porra. O que está acontecendo com você. Eu sei.
- Não tá acontecendo nada não, maluco.
- Caralho. O chocolate. Eu sei de tudo.
- Como ?
- Eu vi você se ajeitando na cadeira pra peidar.
- Caralho, maluco. Não sei o que eu faço.
- Te mandar a real. Meu avô tinha essa porra. Isso aí é uma mina de ouro.
- Que mina o quê...
- Calma, porra. Deixa eu falar! Deixa eu falar ?
- Deixo.
- Amanhã você vai comigo numa reunião. Aí você vai entender.
Jorge me levou na Nestlé. O cara reuniu o corpo executivo inteiro, todos velhos engravatados com cara de patrão. Me levaram num laboratório, fiz cocôlate num potinho e levaram para testes.
Quando saiu o resultado, entregaram ao presidente, mas pude ver de relance o carimbo vermelho no papel: "Alta Qualidade".
Foi quando o presidente começou a discursar sobre o preço alto do cacau, a demanda aumentando, e que eles vinham buscando alternativas mais baratas, e que eu poderia ser uma fonte interessante. Estavam dispostos a pagar milhôes de dólares pelo meu produto interno bruto.
Assinei a papelada. Pedi demissão do emprego e agora minha rotina de trabalho era acordar as 8:00, ir pra fábrica da Nestlé e passar o dia inteiro cagando. Excelente.
Fui condecorado como funcionário do mês.
Meu chocolate era de alta qualidade. Criaram a marca "Alpino Supréme". Chocolate finíssimo, mais caro, para concorrer diretamente com os chocolates suíços, Godiva, Kopenhagen e o caralho a quatro.
Tudo ia muito bem na minha vida. Foi quando um dia aconteceu. Parei de cagar chocolate. Só que ninguém na fábrica percebeu, nem eu mesmo. A produção continuou normal. Só percebemos quando o produto chegou nas prateleiras. Aí foi o caos.
Milhões de processos. O contrato me colocava como fornecedor e a Nestlé me botou na reta. Me fudi bonito. Perdi todo o meu dinheiro e os meus bens foram tomados pra pagar as indenizações. Hoje vivo como mendigo nas ruas de Botafogo.
Final triste.
Crianças: não façam isso em casa e lembrem-se! Cocô não é chocolate!
Comentários
Abs
Você escreve perfeitamente bem e seus textos são ótimos. Mandei um outro recado tem um tempo mas será possível se apaixonar por alguém que não se conhece?
Quanto vale o texto?
Vem pra cá! Vem pra cá! Vem pra cá!
Agora... Dançando e rodando!
Até maio.
Portuguese reader
Prefiro mil vezes quando você faz carinho....
;)