Sentido da vida
Sempre quis sair com ela.
Minha adolescência traumática havia me tirado toda a auto-estima e a confiança para lidar com meninas. Porém eventos recentes com sentimentos niilistas me cuspiam na cara a falta de sentido e a brevidade da vida com a necessidade de aproveitá-la ao máximo. Quem está comigo ? Ninguém ? Ao menos tentei.
Cansei e sei que a vida é sem sentido.
Vou ligar pra ela. Mas e a timidez ?
Sentimentos ambíguos, raízes muito fundas, seu histórico te representa. Como quebrar, ignorar ? Ser você mesmo não é o suficiente. Como ser algo mais ? No fundo tudo gira em torno da confiança. Aquela coisa meio cara-de-pau, inconseqüente, sem se preocupar com o que vai acontecer.
Mas como não se preocupar ? Estamos falando dela. É ela. Tantos anos se passaram e continua sendo ela. E ela não sabe. É lamentável ela não saber.
Porém depois de tanto tempo, como dizer ? Como ? Assim do nada aparecer.
Volto ao ponto de partida. Mas que...
Com uma desculpa esfarrapada, um riso falso e um saudosismo inventado, ligo.
Ela sempre foi simpática, continua sendo. A voz dela. Que saudade. A voz dela me soa um abrigo, o riso é música e música é uma adaga de lembrança.
Vamos sair sim. Vamos.
Vou sozinho com meus traumas de chegar sozinho nos lugares. É, Eduardo. Vinte e cinco anos. Mas continua com medo de chegar sozinho nos lugares.
Ela me vê, sorri, e vem correndo com os braços abertos. Ela sempre foi extrovertida. Eu sei que ela é assim com todo mundo. Mas me deixa achar que é só comigo, é um cobertor delicioso, mas que deixa os pés descobertos.
Ela me abraça forte, mas pra quê... sinto o cheiro do perfume dela.
Um cheiro só dela que eu já tinha esquecido. Um segundo que me transporta pra tantas lembranças em todos aqueles anos de adolescente apaixonado secretamente.
Ela sempre me viu como amigo, estar perto dela já era bom demais, foram anos me achando incapaz de amá-la da forma como ela merecia. Garoto demais me convencendo que eu nunca seria bom o suficiente pra ela.
Ela é meu farol, mas ela também é meu cais. Nunca consegui ir muito além do porto, cego pela luz forte, que incompreensivelmente nunca se apagou. Anos se passaram, e a luz nunca se apagou.
Ela me toca demais, sorri demais, encosta a cabeça no meu ombro, solta risadas deliciosas, morde a minha bochecha, mas eu sei que ela é assim. Ela irradia alegria, estar perto dela mais que intimida. É quase como estar cego por uma luz linda, e você não sabe o que dizer, só sabe admirar e sorrir.
Eu sofro calado. Eu sei que ela não sabe. Ela não tem culpa de ser tão linda, de ser tão querida.
A gente só descobre o que é amar sentindo. Se eu já a amei, não sei, porque o que sinto por ela pode ser até maior que o amor. Penso que se o amor for carinho, por ela eu sinto o carinho e a admiração.
Mas eu preciso dizer a ela que a amo, ganhar ou perdê-la sem engano.
Preciso soltar as amarras, a âncora é pesada demais, enraizada demais, se ela disser não, corro o risco de perder toda a luz.
Navegar no escuro é uma temeridade, mas já virou necessidade, eu preciso sair do cais.
Estamos nos olhando nos olhos, como dizer algo tão grande, tão parte de mim, e logo para ela ? Eu nunca esqueci que amar é quase uma dor. E agora dói, corta o peito pressentir a luz se apagando.
Solto palavras despretensiosas, sorrisos sinceros, carinhos doces, minha mão tem o seu perfume. Rosto com rosto, coração quente, as mãos se entrelaçam e as palavras já não carecem mais.
Em alguns segundos de olhares e toques uma longa conversa aconteceu.
Confissões, risos, alívios, dúvidas, desculpas, choros... tudo que estava engasgado foi descendo por todo o corpo saindo do coração até os pés, um gelado seguido de quente em poucos segundos, e estes segundos foram uma vida inteira.
O coração pesou mais leve.
O corpo flutuou.
E um beijo deu sentido à vida.
Comentários
O amor é mesmo lindo...
Welcome!
Nossa Du... hj vc estava inspirado...
O amor é lindo, mas ao mesmo tempo bem sofrido.
Beijos!