Carnaval



A folia carnavalesca incendeia o país em fevereiro. Os foliões pulam e brincam o carnaval com suas fantasias e alegria.

Já eu.

Cansado, porém condescendente com a proeminente e inevitável chuva de sambinhas, marchinhas e tantas outras "inhas", inclusive as "menininhas", opa, vou atrás do bloco, pois quem sabe sobra alguma alegria pra mim também, até porque, sobriamente, nesta época do ano, me sinto como o desenho da capa do Bloco do Eu Sozinho.

Sempre tive em casa um saco ao qual eu chamo de "kit do folião", cujos itens altamente próprios para o carnaval se tornam quase que absolutamente inúteis durante todo o resto do ano.

O kit é composto de colares havaianos (das cores da Mangueira, veja bem), arminhas de água, latas de espuma, cornetas, nariz de palhaço e outras tantas divertidas, curiosas e criativas brincadeiras.

Mas inexplicavelmente nada me apeteceu diante de todos aqueles treco-trecos. Minha enorme criatividade, veja bem, já não era mais saciada por aqueles utensílios literalmente de outros carnavais.

Quer saber ? Esse ano vou inovar. Se o negócio do carnaval é aparecer, então vou fazer direito.

Já não dizia o poeta que, se a pessoa quer aparecer, ela tem que pendurar uma melancia no pescoço ? Pois bem. Lá fui eu pra cozinha.

A pessoa que inventou esse dito cujo ditato popular não entende muito de melancia, ou de pescoço, pois o feito se mostrou altamente árduo para uma pessoa média como eu.

Taurino como sou, teimoso como eu, vou até o fim, mesmo consciente do provável fracasso da minha inusitada experiência.

Usando um arco e cálculos de física quântica complexos (explicar tudo careceria tempo e saco), encaixo a melancia em meu pescoço.

Nariz de palhaço.

Lá fui eu pular carnaval. O maior folião da festa popular brasileira.

Agora você me pergunta se eu peguei geral. Você acha que dá pra beijar alguém com uma melancia no pescoço ?

Má idéia. Má idéia.

Volto pra casa frustrado. Coloco a culpada pela minha lisura, claro, em cima da mesa.

O cheiro da melancia durante todo o bloco havia me deixado com uma vontade insaciável de comer melancia.

Bêbado como estava, não considerei o intenso calor, o suor azedo e o mofo lânguido aos quais a fruta havia sido submetida nas últimas 6 horas. Ou seja, uma pessoa sóbria claramente classificaria a fruta como extremamente podre ou completamente estragada, com pedaços roxos e amarelos saltando aos olhos.

Alheio às forças da natureza, engulo a melancia tal qual um mendigo faminto.

Meu fígado, que, aliás, me odeia, recebe a fruta com tamanho desdém que nao demoram 5 minutos para que toda a musculatura abdominal comece a trabalhar loucamente no sentido de expulsar aquele corpo nao só estranho como maligno para minha saúde e sobrevivência.

Começo a vomitar freneticamente.

Agora, vai saber o que me fez mal, se foi mesmo a melancia podre ou se foram as múltiplas doses de cachaça, vodka, xiboquinha e outras bebidas nordestinas com altíssimo teor alcoólico que mais que facilmente seriam reprovadas pela Anvisa.

Ou as duas coisas.

Certamente, pois depois do vômito desmaio, ou melhor, entro em coma alcoólico.

Meus pais chegam e me levam para o hospital.

Diagnóstico: Salmonelose + Cirrose alcoólica agravada por contaminação bacteriana + infecção intestinal aguda com quadro grave de diarréia evacuando sangue.

É.

Nunca. Nunca mais como melancia.

Passo as noites de sexta e sábado de carnaval inteiras na cama do hospital, tomando soro e antibiótico, vendo o desfile das Escolas de Samba de...... São Paulo!

Ninguém. Ninguém merece esse carnaval, nem eu.

Lá vem a ceia do hospital.

Sopa, torrada, sorvete e...

MELANCIA.

Paaan, pa, paaan, pa, pa, pa, pa, pa pan...

Pa, pa, pa, pan, pan, pan, pan, pan...

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