Amizade



- Alô.
- Faaala muleeeque!
- E aí...
- E aí, Eduardo! Feliz aniversário cara!
- Pô, valeu cara. Obrigado.
- E aí, beleza ?
- Tudo certo.
- Que bom... que bom...
- ...
- Mas então, me conta mais aí, e as novidades ?
- Pô, cara, zero de novidades.
- Pô, assim não dá né, Eduardo, tem que se mexer, cara! Hahaha.
- É. Pois é.
- Mas então, me diz uma coisa.
- Hum.
- Vamo fazer alguma coisa essa sexta ?
- Pô, pode ser. Diz aí.
- Sei lá. Chega aqui em casa.
- Oi ?
- Chega aqui em casa.
- Sei. Mas... onde você mora ?
- Pô, cara, na Gávea, não lembra ?
- Não.
- Você nunca veio aqui ?
- Acho que não.
- Como não muleque. Pára de zoar.
- Sério, cara.
- Caralho muleque. Achei que você já tinha vindo aqui em casa...
- ...
- Sério que você nunca veio, então ?
- Pô. Sério.
- Pô que estranho, hein.
- Pô, também achei estranho.
- Oi ?
- É. Eu também achei estranho.
- Por quê ?
- Ah. Sei lá... a gente nem é tão amigo assim.
- Hein ?
- A gente nem é tão amigo.
- Pô, sempre te considerei como amigo, cara.
- Hum.
- E aquela vez que a gente apertou as mãos ?
- Pô, cara. Apertar a mão. Normal.
- Pô. Sei lá. Gosto de você.
- Hehehe.
- ...
- Então...
- ...
- Cara, acho que vou nes...
- Peraí. Não desliga.
- Que foi.
- ...
- ...
- Não tenho amigos.
- Hein ?
- Não tenho amigos!
- Como assim, cara, tem sim.
- Não! Não! Não tenho! Você acabou de dizer que não é meu amigo!
- Pô...
- Você é meu único amigo!
- Sério...
- Não tenho amigos! Vou me matar!
- Calma muleque!
- Não! Não! Não!

Tu... tu... tu...

Puta que pariu. Vou ligar pra ele.

Tu... tu... tu...

- Eduardo! Larga esse telefone e vem jantar!
- Opa! Tô indo.

(mesa do jantar)

- Eduardo, que gritaria era aquela no telefone ?
- Ah, um cara aí amigo meu disse que ia se matar.
- Por quê ?
- Porque ele não tem amigos.
- Você é amigo dele ?
- Sou, mas pô, nem sou tanto assim.
- Explique melhor.
- Ah mãe, ele é “amigo”, mas não é “amigo”.
- Sei...
- Sei lá, a gente mal se fala. Mó tempão que eu não falava com ele.
- Mas ele te considera como amigo né.
- É né. Acho que sim.
- Então liga pra ele e pede pra ele não se matar.
- Pô, mãe. No meio da lasanha ? Não vou parar no meio da lasanha!
- Vai sim! Liga lá antes que o garoto se mate!
- Mãe! Eu ligo depois!
- Vai agora!
- Saco...

(telefone)

- Alô.
- Fala cara...
- Fala...
- ...
- ...
- Pô, então, bora fazer aquela parada na sexta então ?
- É... pode ser...
- O que você quer fazer ?
- Sei lá, Eduardo. Tanto faz, sabia.
- Hum... que foi ?
- Porra, não tenho amigos, já falei. Quase me matei agora, porra.
- Cara, fazer amigos não é tão difícil assim...
- Ah, é sim. Já tenho 25 anos, impossível fazer amigos nessa idade.
- Vou te ajudar nessa porra.
- Hum...
- Tem algum vizinho aí que tem a mesma idade que você ?
- Pô, até tem.
- Então, cruza com ele e pergunta se ele gosta de Winning Eleven.
- Hum.
- 80% de chance de ele dizer que sim. Aí você fala que tava afim de arrumar alguém pra jogar contra e chama ele pra ir jogar na sua casa.
- Sei.
- Uma vez na sua casa, serve Fandangos com suco de caju. Pronto! Amizade na hora!
- Bom... bom... muito bom Eduardo! Vou fazer isso! Valeu!
- Beleza. Grande abraço.
- Obrigado, amigo.
- Não sou seu amigo.
- Ah é. Foi mal.

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