Hermeto
Hermeto era um rapaz alto, desengonçado e de poucas palavras. Gostava de sentar sozinho no bar e olhar para as placas dos carros e códigos dos ônibus que passavam, volta e meia soltava baixinho palavras que formava com as letras. Um potencial Asperger, diria uma grande amiga minha. Um copo de Coca Zero que mais servia de adorno que qualquer outra coisa, era o que permitia sentar ali no bar, em sua cadeira favorita. Me aproximei dele através de um amigo, que se divertia tratando de assuntos do cotidiano com Hermeto. Sua visão sobre o mundo era algo um pouco fantasioso, fora da caixa, ingênuo, mas sempre interessante. Meus amigos insistiam em ver somente o lado cômico e se divertiam no bar com as famosas “frases do Hermeto”. Um dia finalmente me sentei somente eu com ele, pois via que estava um pouco inquieto, como se precisasse falar algumas coisas. - Fala, Hermeto. - E aí. - Tá balbuciando aí, cara? Que foi? - Tô pensando na vida, essa coisa. - Que que tem? - É engraçado, a g...